quinta-feira, 17 de maio de 2012

desabafo

Quando eu era miúda, rezava ao deus dos católicos.
Pedia-lhe que determinada coisa acontecesse, agradecia-lhe, ou então fazia algumas das 40 mil orações do imenso merchandising religioso, a "oração da manhã", a "oração da noite", a "oração da menina", por aí fora, escapando-me, obviamente, a "oração do menino" (sim, há literalmente lojas a venderem orações para os meninos e outras para as meninas). Até rezava o terço ocasionalmente, o que por vezes fazia à noite às escuras para adormecer, à laia de contar carneiros.
às vezes aquilo que eu pedia acontecia, mas os grandes pedidos, os realmente importantes, os racionalmente utópicos, nunca se concretizaram.

Convivo com pessoas que, no final das refeições, rezam assim: "Obrigado, Senhor, por esta refeição, para melhor Vos servir e amar" - frase feita, que eu conhecia de lides anteriores.
depois de efetuarem esta oração, estas pessoas arranjam conflitos ou passam o dia em frente a uma televisão.

isto faz-me lembrar no holocausto, por exemplo, na violação dos direitos humanos, na violação sexual de meninas e mulheres, nas injustiças sociais.
este argumento é também desenvolvido por Christopher Hitchens no livro "Deus Não É Grande Como a religião envenena tudo".

Não acredito, atualmente, no deus dos católicos, ou em nenhum ser superior, muito menos creacionista. acredito em constantes matemáticas, em acasos que o são geralmente muito pouco, no efeito fotoelétrico, em coisas, como defendia Carl Sagan em "As Variedades da Experiência Científica Uma visão pessoal da procura de Deus", que são repetíveis, comprováveis, pelo método científico. acredito que o trabalho árduo traz recompensas.

os seres humanos têm alguma espécie de consciência, a qual é composta por matéria, até prova em contrário, nomeadamente, neutrões, eletrões e protões.
até prova em contrário, sabe-se que neutrões, eletrões e protões são indiferentes, inconcientes à dor e sofrimento, à injustiça. quando estas acontecem, cabe-nos somente a nós intervir consoante queiramos e pudermos, mas não esperando por intervenção divina, pois isso significa não fazer nada. para tal, basta assumi-lo.

ontem à noite lembrei-me disto porque de súbito surgiu-me na mente a possibilidade de o meu pai, trabalhador do estado há mais de 20 anos, poder ser despedido, devido a reformas e novas legislações emitidas. isso assustou-me, entristeceu-me e enfureceu-me. se há deus, porque deixa isto acontecer? mas de facto ele deixou morrer milhares de judeus, ele deixa milhares de meninas serem mutiladas genitalmente e violadas, deixa crianças nascerem para uma vida de deficiências e abusos, deixa idosos viverem abandonados, portanto, ou ele é o diabo, ou não existe. voto nessa.
quanto ao meu pai, vou tentar estar cá da melhor forma para o apoiar, fazendo o que eu puder, de acordo com o desenrolar dos acontecimentos. enquanto estivermos vivos.

1 comentário:

  1. Perante tantas incertezas, acredito que há Algo/Alguém q, pelo menos, "andou por cá" no início dos "tempos".
    Oxalá n precise da tua ajuda, mas é sempre reconfortante saber...

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