Encontram-se num parque de estacionamento público. Cada um vem no seu carro, que estacionam como quem quer chumbar num exame de condução. Penetram no maior dos dois, onde passam quase uma hora à conversa. Ela é uma amante exigente. Ele sai a correr, entra no seu carro e parte sem demora. Vai preparar o lar para a receber, para a prender a si. Acender velas pelo quarto. Espalhar pétalas de rosa pelo caminho que quer que seja percorrido pelos passos dela. Deixar mais "à mão" um óleo para massagem, objectos delicados para amarrar corpos e medidas profilácticas de reprodução humana. Ele só pensa nela. Ela demora-se no carro. Verifica se está perfeita na sua imperfeição. Dá um pequeno retoque ao corpo e à arrumação do carro, arrumando intimamente algum assunto, mentalmente. Só depois parte. Ela não pensa só nela.
No final, o parque de estacionamento perdeu os seus amantes. A luz acendeu-se no candeeiro, para servir de guia.
Em casa dele, são as mãos e as línguas que servem de guia.
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